Ensino em Biociências e Saúde - IOC

Programa de pós-graduação stricto sensu em ensino em biociências e saúde

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26/03/2024

Abertura do Ano Acadêmico do IOC destaca ações como acolher e ensinar


Kadu Cayres

A Semana de Abertura do Ano Acadêmico do Instituto Oswaldo Cruz 2024 movimentou o mês de março com quatro dias de intensa programação, incluindo novidades que beneficiam os dois polos do processo de ensino e aprendizagem: estudantes e professores. A consolidação do programa de formação em docência destinado aos estudantes de pós-graduação – que completou uma década – também foi celebrada, ao mesmo tempo em que a discussão sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial ganhou debate. 

A programação da Semana de Abertura do Ano Acadêmico foi iniciada no dia 11 de março, com o olhar voltado para os docentes dos Programas de Pós-graduação. Na ocasião, foi lançada a ação ‘Acolhe IOC – Docentes’. 

Coordenadora da Secretaria Acadêmica (SEAC/IOC) e líder da iniciativa, Norma Brandão explicou que o serviço tem como objetivo abordar temas que impactam no desempenho estudantil – como inclusão e integração nas equipes, diversidade, questões de saúde mental, entre outros.

Wania Santiago, Paulo D’andrea, Norma Brandão e Tiago Regis (esq p/ dir) abriram a programação da Semana de Abertura do Ano Acadêmico. Foto: Gutemberg Brito

“Com a experiência do Acolhe IOC, sistema lançado em 2021 com o intuito de facilitar a comunicação de profissionais e estudantes sobre situações desarmônicas vivenciadas no ambiente de trabalho ou ensino, percebemos a necessidade de estabelecer uma ação específica para o acolhimento dos professores”, comentou. 

Ela acrescentou, ainda, que a iniciativa corresponde a uma das prioridades previstas no Plano Quadrienal Estratégico (PQ) do Instituto. 

Tiago Regis, psicólogo vinculado à SEAC/IOC e responsável pelos atendimentos oferecidos no novo serviço, explicou um pouco mais sobre a novidade.  

“Minha presença no IOC vem no sentido de implementar uma das ações da Política de Apoio ao Estudante (PAE), que é o suporte psicossocial. Por exemplo: um discente recebe diagnóstico em saúde mental e o orientador não sabe como lidar com a situação. Ambos poderão entrar em contato conosco para que, juntos, encontremos uma solução para a questão – seja no âmbito da dimensão pedagógico-institucional, no contexto docente, ou da atenção psicossocial, no que se refere aos discentes”, esclareceu.  

Para o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Paulo Sergio D’Andrea, um dos principais desafios das relações interpessoais no Instituto é a questão geracional. 

“Uma situação simples que demonstra o conflito de gerações é a visão que se tem quanto ao uso de Inteligências Artificiais (IAs) generativas. Para o estudante, elas são vistas como oportunidade; para o orientador, em sua maioria, como ameaça”, contextualizou, aproveitando a fala para parabenizar os envolvidos na iniciativa: “É uma ação inédita no Instituto, pois, pela primeira vez, estamos oferecendo um serviço de acolhimento voltado para os nossos professores e orientadores”. 

Também presente ao lançamento, a diretora adjunta, Wania Santiago, falou sobre a crescente – e recente – inclusão de pessoas com deficiência não apenas na pós-graduação, mas na instituição como um todo, e possíveis consequências. 

“Com essa desejada inclusão, estamos trazendo para a sala de aula questões as quais o próprio docente, às vezes, não está preparado. Com o novo 'Acolhe', a ideia é estruturar ações de apoio, acolhimento e orientação para tornar o ambiente acadêmico mais agradável por todos os envolvidos”, declarou a responsável pela Vice-diretoria de Desenvolvimento Institucional e Gestão (VDDIG/IOC). 

A programação do dia contou ainda com a apresentação da Plataforma CHA para Educadores, projeto coordenado pela pesquisadora do IOC, Clélia Christina Mello.

A iniciativa tem por objetivo promover saúde para os educadores, minimizando os impactos da pandemia de Covid-19 no processo de ensino aprendizagem, a partir do diagnóstico e apoio pedagógico, psicológico e fonoaudiólogo para estes profissionais. 

“A Plataforma visa mitigar os impactos das mudanças sociais e educacionais advindos da sindemia de Covid-19 na vida dos profissionais de educação”, sintetizou a coordenadora.

Clélia destacou a evolução do número de acessos à Plataforma CHA entre 2021, ano de lançamento, até março de 2024. Segundo ela, nos primeiros 12 meses a Plataforma reuniu 402 acessos. Hoje, esse número está na faixa dos 1.030. 

Por fim, a pesquisadora convidou os participantes a fazerem parte da equipe da Plataforma. 

“O profissional passará por uma qualificação antes de começar a atuar na CHA, que oferece serviços psicológicos, fonoaudiológico e pedagógico”, adiantou.

Celebração da prática em docência

O segundo dia de atividades da Semana de Abertura do Ano Acadêmico, em 12/03, foi dedicado à comemoração dos 10 anos do Programa de Estágio em Docência (PED/IOC). 

Para celebrar a década, a programação reuniu coordenadores e ex-coordenadores do Programa, alunos egressos e membros da Diretoria do Instituto. 

Tania ressaltou que a existência do PED contribuiu para redução da lacuna entre academia e docência, que afeta as Instituições de Educação Superior e universidades. Foto: Ricardo Schmidt

“É uma queixa recorrente intra e extramuros: ótimo pesquisador, péssimo professor. E o PED existe para contribuiu com a redução desta dicotomia, que não afeta apenas as Instituições de Educação Superior, mas também as universidades”, declarou Tania Araujo-Jorge, diretora do IOC. 

Vanessa de Paula, atual coordenadora do PED, deu continuidade às comemorações com um breve histórico do Programa, desde os primeiros convênios assinados, em 2014, até o atual momento.

“O PED começou pequeno, com cerca de 20 alunos. Hoje, são 20 universidades parceiras, 680 discentes inscritos, quase 110 supervisores cadastrados e mais de 600 aulas ministradas pelos nossos pós-graduandos em universidades”, listou Vanessa, aproveitando o momento para anunciar a nova coordenação do Programa. 

Vanessa de Paula, atual coordenadora do Programa, apresentou um breve histórico do PED. Foto: Ricardo Schmidt

“Agradeço aos meus colegas de coordenação por todo o suporte oferecido durante o período em que estive à frente do Programa. Agora, com muita segurança, passo o bastão para a pesquisadora Margareth Queiroz”, afirmou. 

Diante dos dados apresentados, o vice-diretor Paulo D’Andrea chamou atenção para a maturidade atingida pelo PED ao longo dos anos. 

“O Programa de Estágio em Docência oferece uma relevante oportunidade para os nossos discentes, tanto que estudantes de outras Unidades da Fiocruz nos procuram interessados em cursar. Gostaria de agradecer aos coordenadores do Programa, ex e atuais, sobretudo por saber que não é fácil estabelecer essas parcerias extramuros”, disse.

A pesquisadora Elisa Cupolillo, chefe do Laboratório de Pesquisa em Leishmanioses, esteve entre os convidados da celebração – afinal, foi no período em que ela estava à frente da VDEIC que o PED foi implementado. 

“Quero agradecer aos parceiros que contribuíram para a implementação do PED, sobretudo a nossa primeira parceira, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), que se empenhou para que o termo de parceria fosse assinado”, declarou. “Os nossos alunos saem daqui cientes de que a prática em docência é importante, que agrega valor ao currículo e à formação científica. Que venham mais dez anos”, festejou.

Elisa Cupolillo agradeceu aos parceiros que contribuíram para a implementação do PED. Foto: Ricardo Schmidt

A programação também contou com as mesas de debate ‘Formação dos discentes: experiências e consolidação do Programa de Estágio em docência na IES’ e ‘Programa de Estágio em Docência: impactos na vida e na carreira dos egressos’, que reuniu supervisores do PED nas instituições parceiras e alunos egressos da iniciativa. 

Mais lançamentos e novas ações voltadas aos discentes

Com a temática ‘Sou aluno, Sou IOC! Boas-vindas: experiências dos alunos e egressos e acolhimento institucional’, o penúltimo dia (14/03) de atividades foi marcado pelo lançamento de duas iniciativas: o serviço de acolhimento psicossocial e pedagógico de discente e a nova edição do Guia do Aluno. 

Norma Brandão abriu a programação detalhando as novidades e principais temas que são abordados na edição 2024 do Guia. Entre os destaques estão: Cursos de Férias, Programa IOC+Escolas, integridade em pesquisa, uso responsável de Inteligência Artificial (IA) generativa, revistas predatórias e agenda global 2030. 

Ação ‘Acolhimento Discente – psicossocial e pedagógico’ foi lançada por Norma Brandão e Tiago Regis. Foto: Gutemberg Brito

Além disso, o documento destaca a importância da participação discente nas conferências livres nacionais preparatórias para a 17ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em 2023, e para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), programada para junho de 2024. 
 
“Nossos Cursos de Férias representam uma ótima oportunidade para atrair novos alunos para os Programas de Pós-graduação do Instituto. Já o tema IA generativas está no centro das discussões da produção acadêmica, logo, achamos importante inclui-lo no Guia. Além disso, a abordagem dos problemas relacionados às revistas predatórias, assunto que será debatido no 10º Colegiado de Doutores do IOC, foi inserido em complemento ao tema integridade científica”, comentou. 

Para falar sobre a atuação estudantil nas conferências livres nacionais, a coordenadora da SEAC convidou Sheila Hansen, membro da comissão organizadora das duas conferências organizadas pelo IOC. 

"A experiência na 17ª CNS foi inspiradora. Das 20 propostas que levamos, dezenove foram aprovadas por uma plenária composta por mais de seis mil pessoas. Nossa preparação para a 5ª CNCTI, a Conferência Livre ‘Ciência, Saúde e Democracia’, destaca a responsabilidade do Instituto em sustentar um debate inclusivo e heterogêneo para fortalecer proposições”, comentou Hansen, aproveitando para convidar os presentes a participar da Conferência Livre do IOC, agendada para o dia 18 de abril. 

“O sucesso das propostas apresentadas na última CNS demonstra o potencial e o engajamento dos diversos segmentos da sociedade – incluindo vocês, estudantes – na construção de políticas públicas”, acrescentou. 

O lançamento seguinte foi a ação ‘Acolhimento Discente – psicossocial e pedagógico’. Estruturada em torno de dois dispositivos, os atendimentos individuais e os grupos operativo-reflexivos, a iniciativa visa o cuidado ampliado com a população estudantil do IOC no quesito saúde mental. 

“Os atendimentos individuais consistem na construção de um espaço de escuta qualificada que envolve acolhimento e apoio. Já os grupos operativo-reflexivos buscam o oferecimento e a construção de espaços de integração e convivência, de modo a afirmar as diferenças e combater as desigualdades. Portanto, serão locais de troca de experiência, análise de implicações, colaboração mútua e ampliação de conhecimentos”, explicou Tiago Regis. 

Sessão especial do Centro de Estudos encerrou programação

O último dia de atividade da Semana de Abertura do Ano Acadêmico (15/03) contou com a sessão especial do Centro de Estudos ‘Impactos esperados pelo uso das ferramentas generativas de lA na produção de textos e imagens na formação de jovens cientistas’. 
 

Para o debate, foram convidados Camila Indiani de Oliveira, pesquisadora da Fiocruz- Bahia; Olival Freire Jr, diretor Científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Helder Takashi Imoto Nakaya, pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia; e Taissa Vila, editora-chefe da revista The Lancet Regional Health/Américas. 

“Ainda tenho dúvidas sobre o uso de IAs na produção acadêmica. A expectativa em relação ao discente é a produção de uma dissertação ou tese e a publicação de artigo científico. Não sei até que ponto o uso dessas ferramentas pode afetar tal produção”, declarou Camila, chamando atenção para o surgimento de uma nova realidade: a venda de coautoria em artigos.   

“Para mim, essa é a realidade mais nefasta no contexto da IA. Fico muito preocupada”, salientou.

Para Olival Freire, a sociedade embarcou na inovação tecnológica trazida pelas IAs generativas sem apelar. Segundo ele, em outros contextos históricos, avanços tecnológicos disruptivos desta natureza eram vistos com inquietação e preocupação. 

“Sem uma análise crítica, podemos ter de fato pesquisadores maravilhosos, que bem utilizam as IAs; ou a ruina da produção cientifica nas universidades e instituições de ensino superior. O alinhamento vai acontecer quando conseguirmos criar na IAS, as regras e valores dos seres humanos”, comentou. 

Helder Takashi e Taissa Vila participaram presencialmente da sessão, enquanto Olival Freire Jr (na tela) e Camila Indiani de Oliveira, de forma remota. Foto: Ricardo Schmidt

Já Helder Takashi fez questão ressaltar que em seu laboratório, a equipe usa as ferramentas de Inteligência Artificial para gerar códigos de informática, ler artigos científicos, entre outras atividades. 

“Em relação à leitura de artigos, uso porque ajuda a organizar o que preciso saber sobre determinados assuntos. Afinal, ninguém consegue ler 45 milhões de artigos, mais uma máquina, sim”, explicou. O pesquisador apresentou, ainda, um gráfico dinâmico com a produção científica nacional e internacional desde a década de 1990 até 2020. 

“Em 2020, houve um aumento exponencial na produção de artigos em Covid-19, isso explica a rapidez com que encontramos a vacina”, disse. 

Taissa Vila compartilhou um pouco da sua experiência como editora-chefe da The Lancet Regional Health/Américas, além de considerações sobre o uso de IAs. 

Na revista, segundo ela, autores podem utilizar as IAs para melhorar a legibilidade e linguagem do manuscrito, e garantir a supervisão e o controle humano. Já os editores e revisores não devem enviar manuscritos, relatórios e cartas de decisão para tais ferramentas, devido às questões de confidencialidade e direitos autorais que envolvem alguns artigos. Além disso, nunca podem utilizar IAs para revisar, avaliar ou tomar decisões acerca de manuscritos. 

“Simplificando, essas ferramentas geram material a partir das informações que recebem. Por isso, podem ofertar conteúdos incorretos, com riscos de viés, dados imprecisos e falta de transparência. Não as demonizo, principalmente, porque acho que são ferramentas que otimizam o tempo, aperfeiçoam o texto, melhoram a acessibilidade, identificam tópicos de pesquisa e colaboram para a divulgação científica, sobretudo quando traduzem textos em outros idiomas”, comentou. 

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